Fui fundador e presidente de uma ONG alguns anos atrás. Quando decidi, junto com mais 3 pessoas, fundar essa ONG, meu objetivo era, sinceramente, dar a minha contribuição humanitária para pessoas que não tiveram a mesma sorte que eu tive na vida. As ONGs representavam, pra mim, as lacunas em que o Estado era omisso e portanto teríamos um papel importante na sociedade. Acreditava, de coração, que estava entrando num mundo acolhedor, humanitário, sem ego, sem interesses pessoais, sem ganância, sem a podridão do dia-a-dia capitalista...
Meu "mundo de Sofia" terminou logo no nosso primeiro projeto em que fui buscar patrocínio, junto a uma rede lojas de produtos naturais. O Mundo Verde. Indicaram-me uma pessoa que "tomava conta" dessa parte. Pois bem. Nosso primeiro contato foi por telefone e ela marcou um encontro na casa dela (!!!!) e não no escritório, como é de praxe (ou eu estou ficando maluco e não se faz mais dessa forma?). Cheguei na casa da pessoa, fui recepcionado como um rei! Biscoitos, chás, sucos, etc. Fiquei espantado com aquela recepção tão calorosa. Estava, mais do que nunca, convencido que aquele mundo era diferenciado, que as pessoas eram realmente mais humanas.
A medida que íamos conversando, fui vendo que essa pessoa não estava representando a loja e sim ela mesma! Tampouco estava ali para decidir se bancaria meu projeto. Estava ali para VENDER o meu projeto e ganhar em cima dele! Ou seja, agia por fora, sem o consentimento e sem o conhecimento do Mundo Verde para faturar em cima da própria loja para a qual ela havia sido contratada para fazer aquele trabalho!!! Insisti, mais de uma vez, em dizer que eu queria o patrocínio da loja e não que ela vendesse o projeto. Sem rodeios, ela virou-se pra mim e disse: "Sou eu quem toma conta dessa área. Já te digo que seu projeto nunca passará sem o meu aval. Portanto, se não quiser fazer negócios comigo, fique à vontade pra procurar outras pessoas." Fiquei sem reação por alguns instantes até que resolvi me levantar e ir embora.
Esse foi o primeiro contato que tive com os meus mais novos, e então, "coleguinhas do meio" das ONGs.
Daí em diante as decepções só foram aumentando. Só encontrava pessoas que queriam tirar proveito da situação. Só me dariam patrocínio se eu desse "algo" em troca e assim por diante.
Para ratificar as inúmeras decepções, o tempo ia passando e as pessoas que estavam comigo na ONG (fundadores) foram saindo, dando desculpas das mais esfarrapadas, me deixando "na mão", sozinho. E olha que alguns eram amigos de infância. Ficaram ao meu lado apenas dois: meu irmão e uma outra pessoa que conhecia há pouco tempo e que depois desse episódio tornou-se meu amigo. Ironia do destino.
Resumo da ópera; o que MENOS se ve no meio das ONGs é a vontade de querer ajudar os que precisam, a sinceridade, a honestidade, o espírito acolhedor.
Tudo acontece na mais podre versão dos fatos. É uma robalheira tamanha, com pessoas que "não estão nem ai" para quem precisa e sim estão dispostas a ganhar "o seu" de qualquer jeito, independente de qualquer coisa! "O negócio é faturar, meu veio", como me disse uma vez um "coleguinha".
OS FATOS:
1. Um belo dia (com 2 meses de ONG) recebi um telefonema de um amigo, dizendo que soube que eu havia "aberto" uma ONG. A família dele era tradicional, de muito dinheiro. Chamou-me pra jantarmos e conversarmos sobre a "ONG". Fiquei esperançoso, pois achava que ele estava disposto a ajudar os projetos. Pois bem, a proposta dele foi a mais surreal que pude imaginar. A empresa da família enviava dinheiro, pelo menos 3 vezes ao ano, pra fora do país para um desses paraísos fiscais e, duas vezes por ano, trazia dinheiro de volta para aplicação. A quantia que eles traziam pra cá não era menos de 20 milhões de reais por semestre. Onde entraria a ONG? Como a ONG tem imunidade de alguns impostos e pode pedir isenção de outros, esses 20 milhões entrariam no Brasil pela ONG, como se fossem pra ela (não era uma OSCIP, portanto poderia receber dinheiro de fora.) e naturalmente pagaria menos imposto, ficando com 10%. Eu fiquei embasbacado com aquela proposta. Principalmente por ter vindo de uma pessoa do meu convívio pessoal. EVIDENTEMENTE neguei.
2. Os presidentes de ONG, por lei, não podem receber QUALQUER tipo de remuneração. Então, os presidentes não vão ganhar nada? Claro que vão! Pega-se um(ns) funcionário(s) da ONG que possa(m) receber salário e esse(s) receberá(ão) um salário "gordo". Essa gordura é repassada para o presidente. É assim que funciona.
Meu "mundo de Sofia" terminou logo no nosso primeiro projeto em que fui buscar patrocínio, junto a uma rede lojas de produtos naturais. O Mundo Verde. Indicaram-me uma pessoa que "tomava conta" dessa parte. Pois bem. Nosso primeiro contato foi por telefone e ela marcou um encontro na casa dela (!!!!) e não no escritório, como é de praxe (ou eu estou ficando maluco e não se faz mais dessa forma?). Cheguei na casa da pessoa, fui recepcionado como um rei! Biscoitos, chás, sucos, etc. Fiquei espantado com aquela recepção tão calorosa. Estava, mais do que nunca, convencido que aquele mundo era diferenciado, que as pessoas eram realmente mais humanas.
A medida que íamos conversando, fui vendo que essa pessoa não estava representando a loja e sim ela mesma! Tampouco estava ali para decidir se bancaria meu projeto. Estava ali para VENDER o meu projeto e ganhar em cima dele! Ou seja, agia por fora, sem o consentimento e sem o conhecimento do Mundo Verde para faturar em cima da própria loja para a qual ela havia sido contratada para fazer aquele trabalho!!! Insisti, mais de uma vez, em dizer que eu queria o patrocínio da loja e não que ela vendesse o projeto. Sem rodeios, ela virou-se pra mim e disse: "Sou eu quem toma conta dessa área. Já te digo que seu projeto nunca passará sem o meu aval. Portanto, se não quiser fazer negócios comigo, fique à vontade pra procurar outras pessoas." Fiquei sem reação por alguns instantes até que resolvi me levantar e ir embora.
Esse foi o primeiro contato que tive com os meus mais novos, e então, "coleguinhas do meio" das ONGs.
Daí em diante as decepções só foram aumentando. Só encontrava pessoas que queriam tirar proveito da situação. Só me dariam patrocínio se eu desse "algo" em troca e assim por diante.
Para ratificar as inúmeras decepções, o tempo ia passando e as pessoas que estavam comigo na ONG (fundadores) foram saindo, dando desculpas das mais esfarrapadas, me deixando "na mão", sozinho. E olha que alguns eram amigos de infância. Ficaram ao meu lado apenas dois: meu irmão e uma outra pessoa que conhecia há pouco tempo e que depois desse episódio tornou-se meu amigo. Ironia do destino.
Resumo da ópera; o que MENOS se ve no meio das ONGs é a vontade de querer ajudar os que precisam, a sinceridade, a honestidade, o espírito acolhedor.
Tudo acontece na mais podre versão dos fatos. É uma robalheira tamanha, com pessoas que "não estão nem ai" para quem precisa e sim estão dispostas a ganhar "o seu" de qualquer jeito, independente de qualquer coisa! "O negócio é faturar, meu veio", como me disse uma vez um "coleguinha".
OS FATOS:
1. Um belo dia (com 2 meses de ONG) recebi um telefonema de um amigo, dizendo que soube que eu havia "aberto" uma ONG. A família dele era tradicional, de muito dinheiro. Chamou-me pra jantarmos e conversarmos sobre a "ONG". Fiquei esperançoso, pois achava que ele estava disposto a ajudar os projetos. Pois bem, a proposta dele foi a mais surreal que pude imaginar. A empresa da família enviava dinheiro, pelo menos 3 vezes ao ano, pra fora do país para um desses paraísos fiscais e, duas vezes por ano, trazia dinheiro de volta para aplicação. A quantia que eles traziam pra cá não era menos de 20 milhões de reais por semestre. Onde entraria a ONG? Como a ONG tem imunidade de alguns impostos e pode pedir isenção de outros, esses 20 milhões entrariam no Brasil pela ONG, como se fossem pra ela (não era uma OSCIP, portanto poderia receber dinheiro de fora.) e naturalmente pagaria menos imposto, ficando com 10%. Eu fiquei embasbacado com aquela proposta. Principalmente por ter vindo de uma pessoa do meu convívio pessoal. EVIDENTEMENTE neguei.
2. Os presidentes de ONG, por lei, não podem receber QUALQUER tipo de remuneração. Então, os presidentes não vão ganhar nada? Claro que vão! Pega-se um(ns) funcionário(s) da ONG que possa(m) receber salário e esse(s) receberá(ão) um salário "gordo". Essa gordura é repassada para o presidente. É assim que funciona.
Já sei que vão perguntar. "Você, então, recebia remuneração dessa forma ilegal?". NÃO. Nunca recebi nada! Acreditem se quiserem. Muito pelo contrário. Saí da ONG tendo perdido 5 mil reais. PERDI.
3. O pai de um amigo do meu irmão era diretor de uma ONG conhecida. Sua ÚNICA fonte de renda é a ONG. Por lei, os salários de diretores de ONGs têm um teto, que não chega a 20 mil reais mensais, se eu não me engano. Pois bem, suponhamos que ele ganhe o teto (20 mil reais) menos impostos. Reduziria bem. E onde ele mora? Na Delfim Moreira, em frente a praia do Leblon. Pra quem não é do Rio de Janeiro ou não conhece, a Rua Delfim Moreira tem o m² mais caro do Brasil (em torno de 20 mil reais), com condomínios que chegam a 6 mil reais FACILMENTE. Será que é do salário que ele ganha?
Bom, só sei que quero distância desse meio. Toda vez que ouço falar em ONG, dá um arrepio.
6 comentários:
Olá Guilherme!
Sinto muito pela sua trágica experiência em meio as ONG´s.Ao ler seu texto me senti na obrigação de dizer o que penso sobre isso...
SIM!existem muitos picaretas travestidos de assistencialistas,que mentem,roubam e fazem a imagem de todos,assim como você fez.Não devemos generalizar algo,por mais que tenhamos passado por uma situação constrangedora e impressionante como foi a sua.Já participei de inúmeros projetos em ONG's de BH,não vou falar pra você que não existem os pilantras,os picaretas com anel de dotÔ!Existem sim!e muitos...mas nada que se difere de qualquer outra profissão.Infelizmente vivemos em um país em que a violência nada mais é que um produto da desigualdade social,que cresce em uma sociedade corrupta e onde a justiça é seletiva.Aprecio suas palavras e compreendo esse seu sentimento diante do acontecido.Venho de uma realidade difícil e sei o que pensam e principalmente, o que sentem esses considerados "excluídos" da sociedade...admira-me seu bom-senso e seu senso de justiça...infelizmente,como você pode presenciar,nem todos pensam assim...Tenho alguns parentes no Rio e pretendo em breve desembarcar até aí...Gostaria de discutir mais sobre o assunto,se possível.
Contacte-me pelo e-mail:Ganesathot@yahoo.com.br
Desde já agradeço a atenção e compreensão...Abraço
Atenciosamente
Lorena
Caro Guilherme!!
Como sou jovem, recem formada, com milhares de idéias e vontades na cabeça. Vontades humanas e reais de alguma forma mudar(n digo o mundo, mas pelo menos a minha região) onde vejo tantas pessoas precisando de ajuda e se forem depender do governo vao morrer ali sem o esclarecimento devido. Tenho grande interesse de criar um ONG, uma associação enfim.. direcionada ao assunto ADOCAO. Com intuito de ajudar os pais, tanto os que pretendem adotar, quanto os que pretendem deixar para adocao. E ajudar as creches, lares...
Mas logicamente para isso precisa-se investir e como investir do próprio bolso, se nem isso eu tenho.. Entendo que o enriquecimento ilegal de fundos do governo existam, mas acredito que a vontade, a honestidade e os bons costumes se sobre-poem a esta realidade.
Se tu pudesse entrar em contato comigo para me esclarecer certas duvidas, visto que tu possui experiência no assunto.. Ficaria muito grata..
Att
e-mail/ nany.schneider@hotmail.com
Olá, estou montando um estatudo para uma ONG no Paraná, já estou enfrentando alguns obstáculos desse tipo. Gostaria de sua ajuda tenho vontade de ajudar a melhorar a sociedade, sozinha nao vou conseguir, se puder me auxiliar, nessa etapa. Ficarei Grata!!
edilenepadilha@hotmail.com
Tenho uma ONG, essa instituição é sim uma fonte facil para receber recursos, todeos veem essa facilidade, porem 99% como todo bom brasileiro só se preoculpa com as vantagens e facilidades. As ONGs em sua maioria são "queimadas" justamente por fazerem irregularidades, serem fiscalizadas e irregularidades encontradas. É muito facil passar um dinheiro pela ONG, mas a responsabilidade de tudo recai em seu presidente e tesoureiro. As ONGs que mais recebem dinheiro do governo ou as mais corruptas são sem excessão vinculadas a politicos, pois deles que vem ou o lobby ou o propreio dinheiro para alimentar essas ongs que recebem o dinheiro que não conseguem comprovar o gasto (dinheiro não some, mas se parte do arrecadado é sacado e colocado na cueca de alguem, você tem que comprovar que esse dinheiro foi gasto com recibo e pagamento de impostos) mas por ser desviados ou desvirtuados, em qualquer fiscalização são pegas de calça curta, nessa hora ou o politico faz o problema desaparecer ou a ONG acaba em processos (e ja fazem outra com novo cnpj e diretores). O governo sabe bem como se rouba e por isso sabe fiscalizar.
Ja o sucesso da ONG isso é muito dificil, ninguem está por ai oferecendo dinheiro, hoje em dia ganhar ja é tão dificil, imagina dar esse dinheiro suado. Trabalho com projetos complexos que dão incentivo fiscal, ou seja, todo o projeto é pre aprovado com comissões de especialistas do governo e o dinheiro doado reverte em isenção tributaria mesmo assim ja é muito dificil. Empresa provada não quer patrocinar pois isso chama fiscalização. Esse não é um mercado para amadores, se gasta muito mesmo e tem que ter experiencia e mostrar respeito para não sofrer esse tipo de assedio criminoso. Quando se ganha ganha bem para que na media do trabalhado, tenha um salario bem fraquinho ainda.
PS: quanto ao presidente não poder ganhar, realmente é rediculo, seu projeto deve ter uma verba para a ONG e ela pagar o presidente, o que acaba dando uma grande burocracia ja que a ong passa a ter contratado.
Olá anônimo.
Desculpa-me, mas não entendi a natureza do seu texto. É uma crítica ao meu texto, elogio ou apenas um desabafo? Em todo caso te responderei no limite do meu entendimento.
"As ONGs que mais recebem dinheiro do governo ou as mais corruptas são sem excessão vinculadas a politicos,"
- Políticos (em exercício) não podem fazer parte de nenhuma ONG. Já começa errado, mas infelizmente vários deles têm, exatamente porque ONGs são um caldeirão do erário.
"Ja o sucesso da ONG isso é muito dificil, ninguem está por ai oferecendo dinheiro, hoje em dia ganhar ja é tão dificil, imagina dar esse dinheiro suado"
- Pois é, meu caro. SUCESSO não deveria ser exatamente o objetivo de uma ONG, mas sim, suprir as lacunas deixadas pelo poder Público. A inversão de valores nesse sentido é gritante.
"Empresa provada não quer patrocinar pois isso chama fiscalização"
- Se fizer tudo certinho, dentro da lei, não há motivos para temer a fiscalização, por isso que esse tipo de argumento não pode ser aceito.
Sua ONG é uma OCISP?
Olá guilherme, meu nome é Marcelo e tenho uma empresa de publicidade,e atualmente estou ajundando a formalizar uma ONG no Rio de Janeiro, Esta sendo um Trabalho bom e gratificante. Diferente de muitos por ai, meu ojetivo não tem nada a ver com o dinheiro. até porque me identifico muito com as crianças que estão sendo ajudadas. Pois bem meu propósito aqui é estabelecer contato com voçê, que vivenciou experiencias boas e ruins, gostaria de ter voçê como uma pessoa que posso tirar duvidas que irão aparecer pelo caminho, se é de seu interesse é claro. pois bem meu
e-mail é marcelo.wandel@hotmail.com, gostaria de contar com uma ajuda sua, porque eu vesti a camisa da ONG e sinto a mesma coisa que um responsável por ela. quero ajuda-los mas ainda nao tenho dominio total deste assunto. ate mais!
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