quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Cazuza...!

Quando o filme Cazuza foi lançado, lembro-me que um mundaréu de gente foi correndo ver. Inclusive eu. Saí do filme meio estranho, com uma sensação esquisita. Aliás, até hoje de manhã, não sabia o que eu havia sentido, de fato, após do filme, até que recebi esse e-mail:

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Esta psicóloga que assistiu o filme Cazuza escreveu o seguinte texto: 

"Fui ver o filme Cazuza há alguns dias e me depareicom uma coisa estarrecedora. As pessoas estão cultivando ídolos errados. Como podemos cultivar um ídolo como Cazuza? Concordo que suas letras são muito tocantes, mas reverenciar um marginal como ele, é, no mínimo, inadmissível. 

Marginal, sim, pois Cazuza foi uma pessoa que viveu à  margem da sociedade, pelo menos uma sociedade que tentamos construir (ao menos eu) com conceitos de certo e errado. No filme, vi um rapaz mimado, filhinho de papai que nunca precisou trabalhar para conseguir nada, já tinha tudo nas mãos. A mãe vivia para satisfazer as suas vontades e loucuras. O pai preferiu se afastar das suas responsabilidades e deixou a vida correr solta. 

São esses pais que devemos ter como exemplo? Cazuza só começou a gravar pois o pai era diretor de uma grande gravadora. Existem vários talentos que não são revelados por falta de oportunidade ou por não terem algum conhecido importante. Cazuza era um traficante, como sua mãe revela no livro, admitiu que ele trouxe drogas da Inglaterra, um verdadeiro criminoso. 

Concordo com o juiz Siro Darlan quando ele diz que a única diferença entre Cazuza e Fernandinho Beira-Mar é que um nasceu na zona sul e outro não.
 
Fiquei horrorizada com o culto que fizeram a esse rapaz, principalmente por minha filha adolescente ter visto o filme. Precisei conversar muito para que ela não começasse a pensar que usar drogas, participar de bacanais, beber até cair e outras coisas fossem certas, já que foi isso que o filme mostrou. Por que não são feitos filmes de pessoas realmente importantes que tenham algo de bom para essa juventude já tão transviada? Será que ser correto não dá Ibope, não rende bilheteria? Como ensina o comercial da Fiat, precisamos rever nossos conceitos, só assim teremos um mundo melhor.

Devo lembrar aos pais que a morte de Cazuza foi consequência da educação errônea a que foi submetido. Será que Cazuza teria morrido do mesmo jeito se tivesse tido pais que dissesem NÃO quando necessário?

Lembrem-se, dizer NÃO é a prova mais difícil de amor. Não deixem seus filhos à revelia para que não precisem se arrepender mais tarde... a principal função dos pais é educar. Não se preocupem em ser "amigo" de seus filhos. Eduque-os e mais tarde eles verão que você foi a pessoa que mais os amou e foi, é, e sempre será, o seu melhor amigo, pois amigo não diz SIM sempre." 

Karla Christine-Psicóloga Clínica

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Pois é... nem tanto ao céu, nem tanto à terra. Concordo, em partes, com essa psicóloga, pois Cazuza, como cantor, letrista, era sensacional. Fora de série. Não ha a menor dúvida disso.

Conheci Cazuza no Baixo Leblon (pra quem não conhece o Rio de Janeiro, o "baixo leblon" era (acho que ainda é) o point dos artistas, intelectuais e vagabundos de carteirinha. Onde eu me encaixava ai? Na época ainda escrevia roteiros de cinema e TV, portanto era um "artista" - rs.), jantando. Estávamos eu, uma ex-namorada e um amigo. Esse amigo nos apresentou à Cazuza, que sentou à nossa mesa e ficou lá até o restaurante fechar. Muito inteligente, safo, bem articulado, mas muito mandão, dono da verdade e extremamente desbocado. A impressão que tive era que ele não tinha limites para tentar conseguir o que desejava.

Nessa mesma noite, num dado momento, Cazuza esperou minha ex-namorada ir ao banheiro para falar diretamente pra mim: "Você é bi? Eu to muito afim de você!". Tomei um susto com aquela declaração. Meu amigo cutucou Cazuza e mesmo assim ele disse: "O que quê tem? É só uma pergunta." Passado o susto, repondi: "Não Cazuza. Não sou bi. Sou hétero.". Ele: "Que pena. Não quer nem experimentar?", eu:" Não. Gosto muito de mulher.". Após ter respondido de forma categórica, incisiva e o restaurante já fechando, Cazuza despediu-se, fazendo questão de pagar a contar. Foi a 1º e última vez que conversei com ele.

Concluindo, Cazuza me foi dismitificado naquela noite. Confesso que me decepcionei um pouco com a pessoa dele. Quando li esse relato dessa psicóloga, muita coisa "bateu" com que eu havia sentido quando fui ver o filme.

Eu só quero lembrar do Cazuza artista.

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