sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Imigrante

Lendo o blog de duas jornalistas brasileiras que moram em Portugal, “Sob o céu de Lisboa”, me veio a cabeça meus tempos de “imigrante”. Esse era o tema do texto (http://oglobo.globo.com/blogs/portugal/post.asp?t=desabafo-de-imigrante-a-esperanca-sob-as-laranjeiras&cod_post=148189). No texto, uma delas desabafava, falando da vida dura de um imigrante.

Enquanto lia o texto, várias imagens da minha época de “imigrante”, foram trazidas do fundo do baú..., quer dizer, da minha mente. Morei alguns anos EUA e lá vivi muitos momentos legais, mas também tive experiências não tão agradáveis assim. Apesar de ter nascido no estado da Califórnia, mais precisamente em Stanford, eu sempre me senti um imigrante, um pássaro fora no ninho. Não pelo idioma, que sempre foi meu também, mas por ter vivido mais da metade da minha vida aqui no Brasil. Pesava, também, o fato de como as pessoas se relacionavam, que era de forma pouco calorosa, fria, calculista, comedida, mecânica. Enfim, a cultura e as pessoas eram alguns dos percalços que eu teria que enfrentar com o passar do tempo.

Tive vários momentos de solidão, porque as pessoas com quem eu SABIA que podia contar não estavam ao meu lado, caso eu precisasse. A relação entre as pessoas sempre foi muito fria, demorando uma eternidade para se fazer uma amizade, de se ir à casa de alguém. Havia sempre uma desconfiança muito grande e até que ela fosse quebrada, muito tempo já havia se passado e dai, era eu quem ficava com o "pé atrás". Aqui no Brasil é o oposto. Você conhece alguém hoje de manhã, de noite já está chamando pra sair. Não que aquilo seja melhor ou pior, mas era diferente e eu não estava acostumado.

No primeiro ano, morava com uma família americana e já no final de voltar ao Brasil (passei 3 semanas aqui e resolvi voltar pra lá, ficando ao todo 4 anos), marcava com um X num calendário que ficava atrás da porta do quarto, contando os dias que faltavam pra eu voltar. A solidão era capaz de tudo.

O sorriso sempre estampado no rosto, independente de qualquer coisa, o americano mostrava que o importante era sorrir, mesmo odiando o que estava fazendo ou estando ao lado de quem fosse. O negócio era sorrir.

Em suma, tive que me adaptar a uma nova cultura.

Lembro-me que quando estourou a guerra do Golf Pérsico pela primeira vez, em 1990, eu havia acabado de completar 18 anos e por ser americano, corria o risco de ser convocado para guerra. Vivia com o semblante fechado e preocupado. Até que, para aumentar ainda mais a minha preocupação, resolvi ir até os correios e me informar como os civis eram recrutados, notificados, caso fossem convocados. Fui informado que as forças armadas, caso precisassem de mim, me informariam pelos correios OU por telefone. Hahahhahaahah Não pensei duas vezes. Tirei o telefone do gancho e não pegava mais cartas (não existia internet naquela época). Convivi com essa maluquice por 3 meses até que resolvi voltar ao Brasil. Deixei para trás uma admissão na faculdade de economia em Maryland (economia!!! Essa foi, sem dúvida, a coisa mais sem nexo que já fiz, pois me atrapalho até com uma simples conta de 2+2) e outra de direito no Havaí (NUNCA iria me formar, pois viveria na praia).

Enfim, aprendi muitas coisas que até hoje trago comigo. Meus anos de “imigrante” terminaram, mas ainda lembro como foi difícil largar a pátria, a família, amigos, cultura, para se aventurar em outros mares. Uma experiência incrível que valeu cada lágrima derramada, cada soco nos sacos de boxe, cada esforço feito nos treinos de wrestling (luta-livre).

Hoje em dia minhas viagens são APENAS a passeio.

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